quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Minha História em Versos

Convido a você leitor
Para observar a história
De uma pessoa simples
Que irei falar agora
Filho de um agricultor
Ficará em sua memória.

No dia seis de maio
De mil novecentos e setenta e três
Veio ao mundo uma criança
Que apesar da pequenez
Parecia dizer a todos
Hoje chegou minha vez.

Nasceu no sítio Croata
Interior do Ceará
Com poucos dias de vida
Cuidaram em batizar
Batista foi o nome
Que passaram a chamar.

O menino ia crescendo
Forte, alegre e barrigudo
Criado com leite condensado
Seu pai fazia de tudo
Para não deixar faltar
O mingau do cabeçudo

Seu pai um agricultor
Sua mãe labirinteira
Trabalhavam sem cessar
A noite só a canseira
Diversão em suas vidas
Eram coisas passageiras.

Enquanto a mãe trabalhava
O menino estava lá
Numa roda de cipó
Muito alegre a pular
Assim ia exercitando
Pois não tinha andajá.

Aos sete anos de idade
Ele foi para a escola
A vida dessa criança
Começou mudar agora
Saiu das “asas” da mãe
Pra enfrentar o mundo lá fora.

Por ser muito inteligente
Muito cedo aprendeu
Todo ano era aprovado
Preocupação não deu
Respeitava o professor
Nos colegas nunca bateu

A precisão muito cedo
Lhe obrigou a trabalhar
Fazia o labirinto
Ia ao roçado capinar
Mais tirava um tempinho
Sempre para estudar.

Roupas boas não tinha
Vestia o que lhe davam
Aproveitou várias fardas
De alguém que se rasgava
Que a mãe com paciência
Singia ou arremendava.

Seus cadernos tão feios
Com folhas amareladas
Livros velhos já usados
Algumas páginas arrancadas
Ficou muito de joelho
Pra aprender as tabuadas.

Papel madeira nem conhecia
Até aquele momento
Os livros eram cobertos
Com sacos de cimento
Mesmo assim ninguém ouvia
Dele se quer um lamento.

Mochila não possuía
Prancheta ou colecionador
Num saco de supercal
Ele sempre carregou
O material escolar
Com disposição e amor.

Sapato Konga e farda
Era coisa obrigatória
Ao passar pra 5ª série
Ficou mais difícil agora
Pensou durante esse ano
Eu irei ficar de fora.

Sua madrinha lhe disse
Pode se matricular
Deixe que eu darei conta
Do fardamento escolar
Papai, mamãe dão o pano
Eu posso costurar.

Um dia seu pai com raiva
Começou a lamentar
Esse menino não trabalha
Só pensa em estudar
E nem pra pau de cangalha
Acho que um dia vai dar.

Pra cursar a 8ª série
Outra barreira enfrentou
Com professores em greve
O ano letivo não começou
Precisou ir para Beberibe
Outro tormento chegou.

Ingressou no magistério
Pois passagem ia pagar
Tinha que ir todo dia
A Beberibe estudar
Por muitas e muitas vezes
Carona precisou pegar.

Quando faltava dinheiro
Sua mãe pedia emprestado
Para concluir o fundamental
Deu um duro danado
E só no final do ano
O esforço foi compensado.

O primeiro grau se foi
Deixou de ser professor
O ensino médio era pago
Sem trabalho não ia dar
Pensou em fazer uns bicos
E mais uma vez enfrentar.

Começou a trabalhar num sítio
Cortando capim manual
Andava uns seis quilômetros
Xotando atrás de um animal
Tinha que alimentar o gado
Dentro do tempo ideal.

Dormia lá em Beberibe
De manhã precisava vim
Todo dia a mesma coisa
Facão, cavalo, capim
Tentava fazer de tudo
E levava o nome de ruim.

Só agüentou até junho
O cansaço era demais
Com apenas dezessete anos
A necessidade o fez capaz
De enfrentar o mundo lá fora
Medo nem sentia mais.

Foi morar em Fortaleza
Trabalhar com seu irmão
Morar em casa de estranho
Por não ter outra opção
Durou somente três meses
Tudo foi só ilusão

Ao retornar à Sucatinga
Aprendeu logo a bordar
Não podia ficar parado
Dinheiro precisava ganhar
Para poder se manter
E a família ajudar.

Bordou por mais de dois anos
Até alguém convidar
Para ser telefonista
No posto da teleceará
A partir daí sua vida
Começou a melhorar.

Lá ficou por cinco anos
Deixando mais uma vez
Sucatinga sua terra
E as amizades que fez
Foi morar em Fortaleza
Demonstrando sensatez.

Uma pousada foi o local
Que encontrou pra trabalhar
Sendo chofer de fogão
Banheiros e louças lavar
Sem falar nos panelões
E as roupas para engomar (passar).

Não resistiu muito tempo
Se esforçava demais
Vou embora hoje cedo
E voltar aqui jamais
Falou isso pra patroa
Nessa casa não venho mais.

Tentando lhe convencer
A mulher quis explicar
Fique por mais alguns dias
Espere as coisas melhorar
Que lá na recepção
Eu irei te colocar.

Ele já estava decidido
Ali não queria ficar
Ela disse e o dinheiro
Quando é que vou lhe pagar?
Se você não tiver agora
Também posso dispensar.

Regressou à Sucatinga
Sem saber o que fazer
A família muito alegre
Lhe recebeu com prazer
Que bom que você voltou
De fome não vai morrer.

Talvez após uma semana
Pra Fortaleza se deslocou
Arranjou um outro emprego
Foi tentar ser vendedor
Esse também não deu certo
Pra Sucatinga voltou.

Depois de passar uns dias
Uma pessoa perguntou
Quer vender numa lanchonete?
Sem pensar logo falou
Vou aceitar o convite
Pois muito me agradou.

Ir denovo à capital
Parecia ser um terror
Mais foi a única solução
Que o coitado encontrou
Para fugir do desemprego
E continuar esse labor.

Uma tarde de sexta-feira
Alguém veio lhe dizer
Viaje pro interior
Lá precisam de você
Porque seu primo querido
Acabou de falecer.

Quando chegou ao trabalho
Sua vaga estava ocupada
Por achar que ele não vinha
Colocaram outra empregada
Patroa de cara feia
Sem olhar, sem dizer nada.

Ao chegar onde morava
O telefone tocou
Pensou é um amigo
Que nunca mais me ligou
E para sua surpresa
A ligação foi um horror.

Ainda um pouco abalado
Com o velório anterior
Agora alguém lhe ligava
Para aumentar a sua dor
A irmã que tu amava
Há pouco instante agonizou.

A partir daquele dia
Não quis saber da cidade
Viajou para sua terra
De lá trouxe a bagagem
Fortaleza ficou pro passeio
O resto será bobagem.

Surgiu uma nova proposta
Que com amor abraçou
Foi convidado a assumir
O papel de professor
Demonstrou bom desempenho
Tornou-se um educador.

Agora mais do que tudo
Teria que estudar
Concluir o pedagógico
Para poder lecionar
O tempo seria curto
Pois o curso ia acabar.

Com o diploma em mãos
O salário melhorou
Passou a receber confiança
Do coordenador, diretor
Amizade de pais e alunos
Também ele conquistou

Queria fazer uma Faculdade
Mais o salário era pouco
Sem dinheiro pra pagar
Só ia passar sufoco
Por isso vestibular
Talvez lhe deixasse louco.

Chegou o dia esperado
Um sonho realizou
Passou no vestibular
Comemorou e até chorou
E pra fazer a matrícula
Dinheiro emprestado tomou.

Passou por dificuldades
Nada o fez desanimar
Férias e fim de semana
Na aula devia está
Pagando, pegando carona
Conseguia chegar lá.

Diante dos desafios
O sorriso sempre mostrou
Pois confiança em Deus
Foi o que nunca faltou
Amigos para lhe ajudar
Aqui acolá encontrou.

Por está devendo meses
Chegaram até ameaçar
Você irá perder tudo
Se amanhã não pagar
No outro dia bem cedo
Ele conseguiu quitar.

Enfrentando obstáculos
Formou-se em Pedagogia
Dizia não vou parar
Farei outra algum dia
Se possível Matemática
Ou talvez Biologia.

As barreiras foram tantas
Que às vezes até chorava
No dia de lotação
O pesadelo aumentava
Sempre ficava sem turma
Lhe davam o que sobrava.

Para continuar, ensinando
De um concurso participou
Ao conferir o gabarito
Concluiu que não passou
Então daí em diante
Sua vida piorou.

Com um pouco de esperança
Novo concurso ele fez
Em um outro município
E acertou desta vez
Passou e foi contratado
O sofrimento se desfez.

Licenciatura em Matemática
Está prestes a concluir
Não pensem que a vida é fácil
É preciso persistir
Confiar em você mesmo
Que um dia vai progredir.

Hoje é professor concursado
Acabou a humilhação
O emprego é garantido
Conseguiu uma profissão
Tudo isso dependeu
De esforço e determinação

Todos nós somos capazes
As oportunidades estão ai
Basta um pouco de coragem
Forças para prosseguir
A caminhada é longa
Mais devemos resistir.

Jamais pense está perdido
Acho que não vou conseguir
Deixe o desânimo de lado
Você precisa reagir
Confie no nosso Criador
E tudo irá fluir.

A todos Deus deu um dom
Procure o seu descobrir
Temos o poder da razão
Pra criar e transmitir
Aquilo que é necessário
Para sabedoria existir.

Ser pobre não é defeito
É obra da criação
Jesus também está presente
Dentro desse coração
Abre sempre uma porta
Entre por ela meu irmão.

Busque novos horizontes
Louve, cante ao Senhor
Agradeça todo dia
A vida que Deus lhe deu
Assim terás o futuro
Que o Salvador prometeu.

Vimos que tudo é possível
Graças ao nosso criador
Este menino lá da roça
Filho de um agricultor
Pela a proteção divina
Conseguiu ser professor.